Bloqueio criativo: no meio do caminho tinha uma pedra.

Bruna Sodré
5 min readOct 3, 2022

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“Na verdade tinham várias. Tropecei, cai, esfolei a cara no deadline e me senti miserável.”

Quem já passou por esse momento, sabe o tamanho da dor e do desespero de se ver estagnado há horas, sem conseguir sair do lugar. Mas será que o que chamamos de ‘bloqueio criativo’ existe? Ou será que estamos presos em rotinas, processos e métodos errados?

Há muito tempo atrás, ainda nos meus primeiros anos de carreira, estava conversando com um amigo muito querido sobre esses vazios criativos. Eu queria entender como grandes designers construíam propostas tão criativas e inspiradoras. De onde vinha aquilo? Na época não existiam ainda muitos métodos no mercado, mas já aplicávamos design thinking para entender, construir e validar as necessidades do projeto. A gente conseguia bastante insumo na etapa de arquitetura de informação. Porém, minha maior dificuldade era com a parte visual. Nós até tínhamos alguns métodos pra essa etapa também, mas ainda me faltava algo… e metodologias — infelizmente — não salvam vidas.

Ao juntar tudo aquilo, sentar na cadeira e passar algumas horas pensando, montando e testando idéias sozinha.. chegava um momento em que meus pensamentos pareciam ressoar em um absoluto e profundo buraco negro.

Em tempo — eu detestava esse lugar. Quando chegava a esse ponto, quanto mais eu insistia, pior ficava. Não me pergunte porquê, a coisa simplesmente começava a desmoronar. Mas, afinal, o que eu estava fazendo de errado? Porque existiam pessoas tão cheias de idéias e soluções criativas e eu entrava naquela espécie de corredor da morte pra finalizar um projeto sem nunca ficar satisfeita? PORQUÊ?

O momento em que eu abri um portal

Esse meu amigo sempre foi muito criativo. Não só em projetos, mas em qualquer coisa que ele fazia na vida. Desde fotos aparentemente aleatórias no meio da rua a objetos que ele analisava com um olhar de artista excêntrico. Falava muito sobre lugares, pessoas e experiências de uma forma curiosa e detalhista… lugares comuns ganhavam toda uma nova ótica nas narrativas que ele fazia. E tudo aquilo era interessante. TUDO. Se ele falasse sobre o pão com manteiga que comeu no café, fazia de um jeito interessante. E eu tenho certeza que aquele momento estava predeterminado na minha vida para virar uma chave e me mostrar o portal de travessia para uma outra dimensão: o mundo mágico da experiência criativa.

Levantei toda essa questão sobre criatividade e criação com o meu amigo… e ouvi uma resposta tão simples quanto assustadora. Ele apenas disse:

“Meu melhor professor me falou que a qualidade da criação de um designer está diretamente ligada à quantidade e à qualidade das experiências que ele mesmo já teve ou está tendo na vida. São essas experiências que constroem sua visão criativa.”

… e, naquele momento, ele mal sabia que estava sendo meu professor também.

Sim, as suas experiências importam mais do que você imagina.

Muito se fala hoje em dia sobre a necessidade de fornecer experiências para o usuário (UX), mas hoje eu quero falar sobre algo ainda mais básico: a primordial importância das SUAS EXPERIÊNCIAS: a qualidade, a diversidade, a disposição e a curiosidade em experimentar e entender tudo o que existe e está sendo criado ao seu redor.

Eu confesso que fiquei intrigada com aquela resposta, porque não parecia ser tão simples assim. Parecia, inclusive, um pouco clichê. Mas como eu realmente admirava a criatividade desse meu amigo, resolvi dar uma chance — vai que essa dica faz sentido — pensei, ainda desconfiada.

Hoje, muitos anos depois dessa frase, eu afirmo com toda certeza que esse é um dos maiores causadores do que a gente chama de bloqueio criativo. Existe até uma teoria na psicologia que explica que tudo o que criamos, na verdade, já vimos ou experimentamos em algum lugar. E o que chamamos de criação, nada mais é do que um milk shake frankstein de tudo o que já experimentamos até hoje.

Dito isso, vou compartilhar aqui algumas dicas para ajudar você a não se desmanchar nesse tortuoso pântano de energia criativa:

1 - Devore, absolutamente, tudo.
Analise sensorialmente tudo o que estiver ao seu redor sobre o que você pretende produzir. Faça uma ampla pesquisa no Google, Pinterest, Behance etc. Vá guardando tudo o que te chamar a atenção positivamente em algum aspecto ou detalhe.

2 - Se emperrar, saia do escritório.
As melhores idéias quase nunca surgem em pessoas que passam o dia inertes frente a uma mesa de escritório. Saia, explore e busque experiências que movimente suas emoções. Busque senti-las e refleti-las ao máximo, para guardar na memória detalhes e pontos de vista diversificados a respeito. Busque também estar de mente e coração abertos. Quanto mais se sentir melhor com suas próprias experiências, maior a chance de serem agregadas ao seu rol de energia criativa. Parece estranho, mas confie. E depois volte aqui para contar, ok? (:

3 - Fale com pessoas.
Pessoas são grandes depósitos de experiência nas quais você pode interagir e se inspirar. Busque falar sobre o tema, serviço ou produto que você quer construir. Busque entender os sentimentos delas a respeito… bem como motivações e até sugestões que elas possam ter.

4 - Abrace o vazio.
Lembra do computador travado que você resolve apertando RESET? Muitas vezes esse computador é você. Pode parecer controverso, mas o vazio e os períodos de descanso são aonde nossa energia criativa mais se sente mais livre para fluir. Respeite esses momentos. Esvazie a mente e vá tomar um banho, ler um livro, meditar ou dormir. Boas idéias podem surgir, e para não se preocupar novamente, apenas anote e esvazie a mente de novo.

5 - Anote.
É muito útil registrar em algum lugar físico ou digital as idéias que possam ser interessantes para o projeto. Favorito detalhes visuais e anoto sempre no meu celular ou papel (o que for mais rápido) idéias que eu não quero perder. Ao final, você construiu um verdadeiro dossiê criativo com alternativas de sobra pra tocar o seu projeto com bastante inspiração!

Esses são os pontos-chave que transformaram meus projetos e até minha própria relação com o trabalho… diminuindo muito ou até anulando os momentos de tortura e bloqueio (sofrimento).

E você? Tem alguma dica ou experiência que transformou seu lado criativo? Se sim, deixe um comentário a respeito… sem querer, pode estar sendo o professor de mais alguém.

“Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio — e eis que a verdade se me revela.” — Albert Einstein

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Bruna Sodré

UX Strategy Specialist - Analítica existencial & experiência. A verdade está no mundo à nossa volta.